Sessão Ghibli #4 - Sussurros do Coração

Se você ouvir com cuidado, vai perceber muitos detalhes que passam despercebidos. Hoje, vamos falar do melhor cartão de visitas do Studio Ghibli: 'Sussurros do Coração'.

[Só um detalhe: todos os principais filmes do Studio Ghibli estão na Netflix, exceto 'Túmulo dos Vagalumes']

Ele foi lançado em 15 de julho de 1995, no auge do verão japonês. Seu nome original é Mimi wo Sumaseba (耳をすませば), cuja tradução, em inglês, seria algo como "If you listen closely". O título, porém, acabou ficando como Whisper of the Heart (que nome bonito, não é?) e sua tradução para o português foi bem fiel e direta. A direção ficou por conta de Yoshifumi Kondō, um jovem diretor cujas expectativas para o futuro, após o sucesso do filme, eram altas. Infelizmente, o senhor Kondō faleceu em 1998, causando um profundo impacto no Studio Ghibli e em todos os seus funcionários.

Essa é uma adaptação do mangá de mesmo nome, lançado em 1989, sendo a autora Aoi Hiiragi. Ele tem 94% de aprovação no Rotten Tomatoes, mas como as premiações ocidentais só descobriram em 2001 que o Japão também produz animações, não posso falar de prêmios que o filme ganhou ou foi indicado. Ao todo, ele arrecadou cerca de US $35 milhões e foi um grande sucesso entre o público japonês.

O filme conta a história da jovem Shizuku, de 14 anos. Enquanto se prepara para os últimos dias no Ensino Fundamental e para as provas de admissão do Ensino Médio, ela repara que todos os livros que vem pegando na biblioteca já foram retirados antes por um tal de Amasawa Seiji. Apaixonada em seus livros de romance, Shizuku crê que talvez ela esteja diante da sua própria história de amor e procura por esse misterioso garoto.

Eventualmente, os dois se encontram e a amizade que se forma os leva a seguirem seus sonhos e lidarem com as dúvidas que surgem nessa idade tão complicada e decisiva. Paralela a essa trama, temos o dia a dia de Shizuku, na escola com sua amiga Yuuko e em casa com seus pais e sua irmã mais velha.

A história de 'Sussurros do Coração' é bem mais simples e direta do que os outros filmes Ghibli que analisamos aqui, sendo seu foco o amadurecimento dos personagens e a transição definitiva da infância para a adolescência. A magia do filme está nos detalhes, é a história de dois jovens moradores de uma grande metrópole que se encontram e, no meio de uma selva de pedra, constroem um relacionamento mágico e sonhador.

Todos os elementos dos filmes adolescentes estão aqui. As paixões entre colegas de sala, as decepções e os triângulos amorosos, o relacionamento conflituoso com os pais e, claro, a velha pergunta que paira na mente do jovem "o que você quer ser quando crescer?". Shizuku, como todos nós, se sente perdida e acredita que está caminhando num ritmo mais lento que os outros. Apesar do encontro com Seiji mudar suas perspectivas, sua vida não gira em torno dele. A menina quer ir atrás do seu sonho porque é o que ela decidiu, é o seu próprio teste e seu próprio caminho.

Em alguns poucos momentos, o filme fica um pouco mais lento e parece que nada vai acontecer. O começo, principalmente, é menos dinâmico do que o padrão do estúdio e pode exigir esforço para continuar até o fim. Outro ponto que levanta questões é o romance. Ao assistir essa obra, lembre-se que os personagens têm 14 anos e essa é a época em que quase todos julgamos que tudo vai durar para sempre, que não existe dor, tristeza ou separação no mundo. Os protagonistas possuem sentimentos intensos e sempre quiseram se encontrar, nutrindo sonhos em torno desse momento, mas eles também são tímidos, há muita coisa para ser dita e pouca coragem para expor o que sentem.

A cena final é, particularmente, muito debatida por aqueles que assistiram, mas eu achei fofa considerando todo o contexto e o que estava no futuro dos dois jovens. Por outro lado, a trilha sonora é maravilhosa e facilmente a melhor dos quatro filmes que falei aqui no blog - isso se você, assim como eu, gostar de Country Roads, a música-tema. A inspiração dos anos 80 e 90 é fortíssima (1995 né), então espere sintetizadores, guitarras, baixos e, claro, muitos violinos.

A animação é impressionante e adorei cada horizonte que os produtores desenharam - talvez porque sempre tive o sonho de conhecer Tóquio (e um dia vou conhecer), as cenas ao ar livre me tocaram profundamente. Ao final, o sentimento que me deu foi uma profunda saudade, pois eu me senti realmente em casa vendo o filme. Não chorei tanto quanto nos outros, mas saí feliz e apaixonado pelo que vi.

Me identifiquei com a paixão por livros de Shizuku e o desejo dela de repetir uma grande história dos romances na vida real (exposição gratuita nesse blog). Toda a independência dos personagens, viajando pela cidade livremente, me lembrou da minha própria rotina pré-pandemia e da minha adolescência. Portanto, não é para se pensar muito ou tentar encontrar grandes mensagens, mas para sentir e prestar atenção aos sentimentos que estão nos detalhes, aos sussurros do seu próprio coração.

Espero que você tenha gostado de 'Sussurros do Coração' e da minha review. Tecnicamente, ela deveria ter sido postada na última semana, então teremos mais um post no sábado (22) e esse é um dos mais aguardado por alguns.

O próximo filme que estarei analisando será 'A Viagem de Chihiro' (2001), o mais famoso e aclamado do Studio Ghibli. Nesse domingo, estarei vendo 'Contos de Terramar' (2006), um dos mais criticados do estúdio e considerado um dos piores, a review sairá na semana que vem, ou seja, voltaremos à normalidade. Como será esse contraste entre o suposto melhor e um dos piores?

Link do filme no My Anime List, caso queiram ler mais reviews: Mimi wo Sumaseba (Whisper of the Heart)

Comentários

  1. Eu senti um quentinho coração lendo a review, imagina vendo o filme <3 tá na minha lista faz tempo, mas tinha lá minhas dúvidas se valia a pena ver, essas dúvidas não existem mais hahah ah, você escreve muito bem, papi!

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    1. Fico tão feliz que alguém esteja lendo minhas reviews kkkk, cada feedback vale o mundo pra mim

      Vale muito a pena, pode transformar no seu futuro comfort movie kkkk

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