Depois de um longo
período sem postar nada neste blog, eis que estou de volta para falar de
música, é claro. Pouco tempo atrás eu fiz uma votação no meu Instagram (@20anosdecrise)
para ver qual era o tema que meus seguidores queriam ver nesse espaço e o tema “as
diferenças entre K-pop, J-pop e A-pop (pop ocidental)” venceu.
Já faz muito tempo que
eu quero falar sobre isso, considerando a quantidade de informações erradas
espalhadas pela Internet depois do boom do K-pop nos EUA, que começou lá em
2016 e se intensificou em 2018 – e, como sabemos, tudo que explode nos EUA imediatamente
se torna “normal” o suficiente pra ser consumido no Brasil também. Vamos lá
então?
K-pop e J-pop são estilos
musicais?
Não exatamente. K-pop
significa Korean pop e J-pop, Japanese pop, ou seja, são músicas
populares em seus respectivos países. É possível um artista alemão (e da etnia
alemã) compor uma música de rock, assim como um artista japonês ou
estadunidense, ou de qualquer parte do mundo, mas é impossível um artista alemão
lançar uma música de K-pop ou J-pop, entenderam?
A-pop (American Pop),
apesar do nome, engloba o pop ocidental como um todo e nós chamamos isso de pop
no dia a dia, e consideramos como um gênero musical e é aí que nasce a confusão
com os outros termos. O pop é um gênero difícil de ser classificado, mas
existem similaridades: a repetitividade da letra, a facilidade com que a música
cola na nossa mente, tudo que torna o gênero fácil de ser vendido.
Já dentro do K-pop e do
J-pop temos artistas que cantam R&B, pop, EDM, house, trap, hip hop, pop
rock, rock (e aí temos o J-rock), eletropop, soul, trot (gênero coreano mais
tradicional), folk, country pop, jazz, entre outros. Você pode me dizer “Ah,
mas dentro do pop americano isso também acontece”, mas se falar com alguém que Kanye
West é um artista da música pop, vão te corrigir e dizer que ele é do rap e hip
pop. Já no K-pop/J-pop não, esses termos são grandes guarda-chuvas de artistas populares
daqueles países. Para os que não se enquadram nesses dois termos, dizem que fazem parte do “underground”.
Por fim, vem a questão
da reinvenção. Artistas femininas no pop estão sempre se reinventando, no K-pop
e no J-pop as mulheres também fazem mais isso, mas os homens variam bastante seus estilos entre lançamentos (lembram do post do GOT7?) e
trazem vários conceitos em cada álbum. Então é difícil dizer qual gênero um
ou uma artista de K-pop canta exatamente, porque depende do álbum que você está
falando.
Qual a diferença nos
lançamentos?
No pop, um artista lança
um single pouco antes do álbum, depois de algum tempo lança o álbum e depois de
algum tempo pega b-sides, grava clipes e lança como singles, para aumentar
aquela “era”. Exemplo: Taylor Swift lançou ‘Shake It Off’ em agosto, 1989 em
outubro e os outros singles a partir de novembro de 2014, com 3 ou 4 meses
entre um e outro.
No J-pop, um álbum é o
resultado de uma série de singles lançados antes. Dessa forma, o público nunca
sabe o que um artista vai fazer com todos aqueles singles, é um suspense e uma
verdadeira bagunça. Namie Amuro lançou ‘Break It’ em julho de 2010, só que esse
single é do álbum ‘Uncontrolled’, que foi lançado em junho de 2012! Nesse meio
tempo ela lançou uma coletânea (‘Checkmate!’) e singles para essa coletânea.
Esse formato também
permite que o público decida se vai ou não comprar o álbum em questão, porque
já sabem o estilo que ele vai seguir e a qualidade geral das músicas. Artistas muito
consagrados, como a Namie, às vezes podem se dar ao luxo de não lançar singles
e só soltar o álbum aí, como ela fez com ‘_genic’ (2015), mas o impacto nas
vendas é inevitável – e ela ainda vendeu muito bem.
Depois que um álbum é
lançado, se você gostou de uma Getaway Car da vida e tá esperando virar single,
espera sentado. Singles só saem depois do álbum como presente para os fãs e
isso é MUITO raro, porque o público já está esperando a próxima inédita.
E o K-pop? O K-pop tem
um formato mais próximo dos EUA, com poucos pré-lançamentos antes do álbum (e
não, o seu grupo não inventou o pré-lançamento e nem foi o primeiro relevante a
fazê-lo, sossegue) e pior, o single principal do álbum sai no mesmo dia que o
dito cujo! Exemplo? O álbum ‘I Got a Boy’ do Girls’ Generation saiu no dia 1 de
janeiro de 2013, junto com o single ‘I Got a Boy’, na mesma hora. Esse álbum teve
um pré-release, ‘Dancing Queen’, lançado dia 21 de dezembro de 2012.
Os singles são o ponto
principal do K-pop, é normal achar grupos que lançam singles maravilhosos e só
possuem b-sides ruins – o pessoal na Internet costuma falar a mesma coisa de
artistas como Katy Perry ou Justin Bieber (não tenho opinião formada, é só para vocês visualizarem melhor a situação apresentada). Hoje em
dia isso tem mudado e os artistas têm se preocupado em gravar b-sides boas, mas
antigamente era uma marca registrada de alguns grupos (como o f(x), por
exemplo, conhecido por seus ótimos álbuns).
Por fim, a diferença também
existe no tempo entre comebacks. Os artistas ocidentais dão, no mínimo, 1 ano
entre cada álbum e, em geral, 2 anos. No J-pop varia muito, tem artista
presente todo ano e artista que some e volta por longos períodos também, mas a
verdade que é o público japonês é bem imprevisível com músicas.
No K-pop, 2 anos entre
lançamentos é uma eternidade, tem artistas que lançam até 3 álbuns no mesmo ano
e, para isso, os EPs (cerca de 5 faixas) são mais úteis. Especialmente no
começo da carreira, os artistas de K-pop estão trabalhando o tempo inteiro, quando
envelhecem ou atingem o pico, começam a dar mais espaço entre um lançamento e
outro.
Como funcionam as promoções?
Essa é minha parte favorita como kpopper que sou. As promoções no K-pop envolvem muito mais do que entrevistas, turnês e aparições em programas de variedades na TV (que é o básico no A-pop e J-pop). Isso porque temos os programas musicais, conhecidos pelos fãs do Brasil como “programas do Raul Gil”.
Esses programas são:
Inkigayo, M! Countdown, Music Bank, Music Core, Show Champion e deve ter
surgido outro aí que eu não acompanho tanto. Mas esses 5 aí são os principais e
os grandes responsáveis pelo K-pop ser tão famoso fora da Coréia do Sul como ele
é. Funciona assim: os artistas vão lá, performam suas músicas e, no final, os 3
mais bem colocados concorrem a um prêmio. A pontuação soma as views do
Youtube, vendas físicas, vendas digitais, votação online e outro critério que varia
entre programas.
Apesar de serem prêmios
simples e que não têm o valor de um Seoul Music Awards ou Golden Disc Awards
(os maiores prêmios do K-pop), os artistas se emocionam muito quando ganham
porque indica que as suas carreiras estão indo bem e é um rito de passagem
marcante para eles e para os fãs, então a choradeira no palco vem.
O vídeo abaixo não foi postado num canal oficial desses programas, mas foi o único que eu achei que misturava a performance e a premiação no final (você está no meu círculo de amigos mais próximo se sabe qual das 8 é minha favorita).
Até a última vez que eu
olhei, o Girls’ Generation era o artista com mais prêmios desse tipo, com 100
estatuetas ao todo (a última vez que eu olhei foi em 2016, mas tenho certeza
que no Top 3 elas ainda estão e não, BTS e Blackpink não estão perto disso
ainda).
Última pergunta, por quanto
tempo um artista é relevante?
No pop varia bastante
né, temos Madonna aí desde o começo dos anos 80, o pico dela já passou, mas
continua relevante e incomodando alguns. E temos artistas que eram relevantes até
2016 ou mesmo 2018 e agora ninguém se importa mais e suas carreiras começaram
nessa década mesmo. Ou seja, pode ser que dure décadas, pode ser que dure 1 ano
só.
No K-pop depende de alguns fatores. Primeiro a sua empresa, já que a música coreana é dominada por 3 gravadoras: SM, JYP e YG, a Big Hit (gravadora do BTS) também tem se tornado muito influente nos últimos anos. A maioria dos artistas de K-pop entra nessas agências quando criança ou adolescente e treina e compete entre si por anos para ganhar uma vaga num grupo. Os grupos das maiores empresas têm chances maiores de obterem sucesso e por muito tempo também.
Boygroups costumam durar mais (o disband é raríssimo), só que precisam entrar em
hiatos quando os membros atingem 28 anos, porque eles vão servir no exército
por quase 2 anos e quando voltam não conseguem mais o mesmo nível de popularidade.
Já os girlgroups (e os artistas solo de maneira geral) duram cerca de 7 anos,
no máximo. Existem exceções, como o Girls’ Generation, o Apink ou o Wonder
Girls.
A carreira das mulheres
começa a desacelerar quando chegam nos 25 anos de idade e o público começa a pensar que estão velhas (aconteceu com a BoA), mas há exceções como Taeyeon (31) ou Lee
Hyori (41). Detalhe: existem membros e artistas solo que estreiam com 14 anos
de idade ou até menos – como a BoA.
No J-pop o pessoal é
mais fiel (e, ao mesmo tempo, quando querem pular do barco pulam sem dó) e é
muito comum achar artistas de 10 ou 20 anos atrás vendendo de maneira estável.
Exemplos são: a boyband Arashi, a cantora Utada Hikaru, o AKB48, entre outros.
Os artistas masculinos costumam durar mais, mas artistas femininas também
conseguem se manter populares, como Namie Amuro, que viu sua carreira declinar
no começo dos anos 2000 por conta de divórcio, gravidez e a ascensão de outras
artistas e depois reviveu sua popularidade a partir de 2005 e se aposentou no
topo em 2018, com 26 anos de carreira e 41 anos de vida!
Pra não falarem que eu puxo muito o saco da Namie, coloquei outro da Utada Hikaru, dessa vez com a Ringo Sheena.
O post já ficou bem
grande até aqui e espero ter apresentado os principais detalhes entre esses
diferentes estilos e, acima de tudo, desmistificar o J-pop e o K-pop, que trazem
as mesmas coisas que os artistas ocidentais só que com idiomas diferentes – e muito
mais criatividade! No futuro planejo trazer mais detalhes e o lado sombrio desses
estilos, incluindo os tabus e outros detalhes que incomodam muito. Fiquem com
minha playlist para iniciantes no K-pop, abraços!
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