TAYLOR SWIFT - FOLKLORE (2020)

   Esse post não era esperado. O combinado para amanhã era falar de anime e dar uma variada nos assuntos desse blog, mas aí eu lembrei que aqui só minha vontade importa e então falarei sim do novo álbum da Taylor Swift, folklore.

   A cantora vem dividindo as opiniões dos fãs e ouvintes casuais desde 2017 com seu álbum Reputation e ano passado essa polarização só aumentou com Lover (2019). A própria Taylor já reconheceu no seu aclamado documentário “Miss Americana” (2020) que sabe que sua carreira está desacelerando e podemos ver isso nas reações de alguns obcecados em tudo que ela diz ou faz.

   Como TS não é somente uma compositora incrível, mas também uma mulher muito inteligente e – no bom sentido – esperta, surpreender o mundo com o anúncio de folklore foi uma decisão muito mais que sábia. Ontem (e hoje) o mundo inteiro parou de fazer o que estava fazendo para discutir sobre esse lançamento e ela fez cada hater engolir as declarações de que não é mais relevante, sim. Mas só isso não é suficiente para manter a carreira no topo, precisamos de músicas boas e vamos analisar se esse álbum acertou nesse quesito agora.

   A resenha vai funcionar de um jeito diferente, pois em algum momento vai ser uma bagunça e não falarei com detalhes de todas as faixas porque são 16. Vocês que lutem para me entender.

    O álbum abre com The 1 e mais uma vez Taylor acerta na primeira faixa, pois ela é frágil e confessional e funciona bem como um panorama do que estamos prestes a ouvir. Não é uma introdução explosiva como State of Grace, Welcome To New York ou ...Ready for It?, mas a composição compensa porque nunca ouvi uma “Taylor Swift” tão madura e olhando para alguém que ela amou com tanta... paz de espírito?

    Gostei de Cardigan quando assisti o clipe (vai lá assistir, seus olhos estão clamando por isso) e fiquei preocupado com ela no álbum. Duas faixas seguidas usando piano me deixaram apreensivo, mas que música linda. Não sabia que eu precisava ouvir Cardigan até ouvi-la e me emocionei muito com o resultado disso aqui e a fantasia do clipe com um milhão de simbolismos que não estou disposto a analisar só completa a experiência. Falaremos mais depois.

  Exile já foi coroada a favorita dos fãs na internet e tem chamado atenção pela participação de Justin Vernon, vocalista da banda da indie folk Bon Iver. O piano está aqui de novo e por que eu estou perdoando Taylor Swift por esse crime comigo? Porque mais uma vez a letra e os vocais estão perfeitos.

  Os dois criaram uma história meio medieval, comparando aquela pessoa com uma cidade: o amor acabou, você foi exilado do seu lar e agora se questiona por que continua defendendo esse lugar e continua sentindo saudades. Mas aí no meio da música conhecemos o outro lado da tristeza e o contraste da voz delicada de Taylor com a voz bruta de Justin criou um som lindo que me machucou na alma.

 The Last Great American Dynasty e My Tears Ricochet acertaram pelo experimentalismo e pelas histórias que, aliás, estão de parabéns – cada música é um universo. A primeira trouxe referências a Rebekah Harkness, uma artista, escultora, filantropa (Tony Stark da vida real), que era a dona da casa que Taylor comprou em 2013 em Rhode Island, a "Holiday House".

  Harkness chamou a atenção de seus vizinhos pelos seus eventos cheios de artistas famosos e pelo seu comportamento “subversivo” e a cantora também foi vista dessa maneira por outros moradores quando comprou a casa, então a música pode indicar uma comparação entre as duas e como elas causaram algumas confusões (em vários sentidos).

  Vi alguns comparando a história de My Tears Ricochet com as metáforas sobre a Old Taylor estar morta lá do Reputation e, tal como as canções lá de 2017, essa é mais agressiva e provocativa. “And if I'm dead to you, why are you at the wake? Cursing my name, wishing I stayed, Look at how my tears ricochet”. As vozes fantasmagóricas no fundo completam o clima de funeral, ela pensou em tudo mesmo.

   Cardigan está relacionada com as faixas August e Betty. De acordo com Taylor, elas narram um triângulo amoroso do ponto de vista de cada uma das pessoas envolvidas: James, Betty e a amante.

    August está falando de um amor de verão, até o instrumental grita essa vibe. Algumas linhas como “’Cause you weren’t mine to lose” indicam que aqui estamos ouvindo a menina envolvida na traição - e sabemos que é uma menina por causa do verso “Chase two girls, lose the one” lá de Cardigan. O violão aparece mais nessa faixa e temos também violinos e guitarras? Não estou certo, mas o final é emocionante e inesperado.

    Betty é a tentativa de James (o pula cerca) de enrolá-la na conversa depois que a amiga da menina, Inez, contou sobre o rolo de verão. James até admite que fez uma coisa terrível, mas depois solta um “I’m only seventeen, I don’t know anything”. Parece que Betty não engoliu essa conversa completamente já que lá em Cardigan - o ponto de vista dela - temos o “When you are young, they assume you know nothing”. 

    James fica sonhando em aparecer numa festa na casa da namorada e no final aparece mesmo e Betty sabia que ele ia voltar para ela (vimos isso no seu ponto de vista). O rapaz termina sua música falando sobre como sua namorada estava de pé vestida com um cardigã e eles estavam se beijando de novo.

    Por fim, August e Betty confirmam a história de como James se envolveu com outra menina (ela parou com o carro ao lado dele e o chamou para um passeio) e ambas confirmam que foi apenas um amor de verão, nada mais. Confuso? Eu diria genial, especialmente porque a faixa do ponto de vista do namorado é um country simples e sempre muito apreciado em meio às outras faixas pop. 

    This is Me Trying tem mais influência do synth-pop de 1989 (2014) e também fala de uma pessoa tentando consertar seu relacionamento. Alguns se lembraram do triângulo amoroso daí de cima, mas eu prefiro acreditar que aqui é a Taylor mesmo em sua jornada de autoconhecimento que começou lá em 2016. É algo mais pessoal. Grande parte da música não é cantada, deixando apenas esse instrumental maravilhoso guiar todas as emoções. A letra ainda me lembrou alguma outra coisa em uns momentos, acho que “Death by a Thousand Cuts”.

    Invisible String não apenas é muito simples, mas é uma linda declaração de amor a Joe Alwyn, o namorado de Taylor. Uma linha invisível a tirou dos braços errados e ligou o casal. A jornada da cantora foi um inferno de namorados que partiram seu coração, mas agora ela está no paraíso. Aguardo pacientemente o dia que ouvirei isso aqui com a menina certa do meu lado e poderei sentir o que Taylor sentiu ao pensar nessa letra.

   Outra que também possui uma letra interessante é Mad Woman, pois a cantora explicou no seu Instagram que essa música é sobre uma viúva que se vinga de sua cidade depois que os moradores tentam expulsá-la ou humilhá-la. Quanto mais a provocam, mais ela se enfurece e é cheia de referências a outras músicas, como as bruxas de “I Did Something Bad”, o karma de “Look What You Made Me Do” e a rivalidade feminina que ela abordou em “You Need To Calm Down”.

     Está meio óbvio que a “viúva” seria a própria Taylor, que em um momento tinha tudo e do dia pra noite se tornou o alvo da internet e de outros artistas. A viuvez da personagem pode estar relacionada às piadas que sempre fizeram da cantora por conta de seus namorados - em ambos os casos é a falta de um homem que provocou as reações. Também vi alguns comentários relacionando isso ao Scooter Braun empresário lá que pagou 300 milhões de dólares pelas músicas da TS, o que eu também acho plausível.

    Para encerrar, Hoax. Inicialmente fiquei preocupado com a letra dessa música porque está falando de um relacionamento abusivo e os sentimentos de uma pessoa nessa situação. Ela também parece fazer referência às suas experiências negativas, que culminaram no Reputation (tem muito desse álbum em todas as faixas aqui). Tudo ainda dói, mas o que seu companheiro fez foi tão ruim quanto o que os outros fizeram.

    Depois de Invisible String, não tinha dúvidas de que Taylor e seu namorado estavam mais felizes do que nunca, mas Hoax me deu esse nó na cabeça. Foi então que li um comentário que dizia “ela pode falar sobre relacionamentos tóxicos e ainda estar com seu namorado, pode ser sobre outra pessoa”. De fato.

   Chegamos ao fim de nossa review gigante. As outras faixas que não comentei – Mirrorball, Seven, Illicit Affairs, Epiphany e Peace – não são ruins, na verdade eu só desgostei mesmo de Peace, por achá-la repetitiva ao extremo. E não falei das outras porque apesar de serem boas, não acrescentam nada fora das que eu já comentei.  

  Fico feliz que Taylor tenha dedicado seu tempo em quarentena para deixar a imaginação voar e retornou com um álbum tão autêntico e natura. Era tudo que ela precisava depois da explosão de cores que foi o Lover. Estamos diante de uma nova fase da cantora, madura e experimental e isso é legal porque os fãs também estão envelhecendo e com eles os seus gostos musicais. Estou animado para o que vem a seguir.

    Se vocês gostaram desse álbum, outro parecido que eu recomendo é o Fantôme, da japonesa Utada Hikaru (já falei dela no post da Dua Lipa). Ignore todo o estereótipo que você possa ter sobre música japonesa, dê uma chance e pesquise sobre as letras das faixas. Mesmo o clipe de Cardigan me fez sentir emoções parecidas que eu tenho ao ouvir a melhor faixa da Utada nesse álbum: Manatsu no Tooriame (traduzindo literalmente para o inglês: Midsummer Shower).


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