DUA LIPA - FUTURE NOSTALGIA (2020)

Minha história com o pop do lado de cá do mundo nunca foi muito profunda, digo isso porque eu sempre gostei dos singles que ficavam famosinhos, mas ouvir um álbum inteiro? Jamais.
Do ano passado pra cá isso mudou e eu tenho me esforçado para escutar o que todos estão ouvindo. Desse conjunto de álbuns que já escutei meu favorito é o Future Nostalgia, da Dua Lipa.
O primeiro álbum dela me lembrou bastante de algumas coisas no K-pop, só que entre coisas que lembram K-pop e o próprio gênero eu prefiro o original, e não dei muita atenção. Já o Future me soa meio inexplicável: não há nada nele que pareça inédito, mas todas as músicas são tão boas, descontraídas e me levam direto pros anos 70/80 que nunca vivi.
    
         Alguns podem me dizer “ah, mas muita coisa nesse álbum também já foi feita no capope e você está dando atenção”, e quem diz isso está certo, basta ouvir o Reboot, das Wonder Girls, lá de 2015 pra confirmar. Só que com synth-pop e disco eu não discuto, eu só ouço e guardo no coração porque eu amo esses sintetizadores e esse clima de discoteca. Finalmente, de todas as faixas no álbum, que são ótimas, eu recomendo fortemente:
Future Nostalgia: esse “future” logo no começo me lembrou muito de canções como “Open Your Heart” da Madonna, então pode ter certeza que essa aqui vale muito a pena. Tem várias coisas acontecendo no instrumental, até mesmo um piano aparece quase no fim e ela vai ficando cada vez mais atual e menos nostálgica.
Don’t Start Now: novamente misturando elementos atuais com a música dos anos 80, aqui Dua Lipa ainda acrescentou o disco dos anos 70. O resultado é um pop maravilhoso e eu com certeza dançaria sozinho no meu quarto de madrugada (se já não faço isso).
Mas o que mais gostei nessa faixa é a letra, pois não tem nada de novo em mandar a/o ex se ferrar porque ela/ele começou a se preocupar com você depois que tudo está finalmente se ajeitando, só que tem gente de coração partido todo ano então ouvir essa história será sempre interessante.

Cool: me lembrou bastante da trilha sonora de “Todo Mundo Odeia o Chris” e de alguns clássicos como “Time After Time”, provavelmente porque o new wave é mais forte aqui. É um dos momentos que a nostalgia (no meu caso de algo que não vivi) grita nos nossos ouvidos.
Physical: como diria a Anitta “aqui é a patroa falando”. Estamos diante da melhor música do álbum e talvez a melhor música que eu escutei desse ano. Ela começa bem humilde e vai evoluindo numa mistura bateria + sintetizador e um refrão bem gritado (que com a voz grave da Dua só fica melhor). Por volta de 2:30 na música foi quando soube que isso aqui era o amor da minha vida, pois o instrumental diminui e a voz dela recebe todo o destaque gritando “All night, I'll riot with you, I know you got my back and you know I got you, So come on, come on, come on, Let’s get physical”. Perfeita.
Hallucinate: sei que essa tem muito das décadas passadas, mas pra mim ela está completamente no lado mais futurista do álbum e isso prova minhas suspeitas: Future Nostalgia é o Past<Future (2009) do ocidente e é por isso que eu amei tanto todas essas faixas. Como sou fã dessa vibe futurista, eu fiquei apaixonado em Hallucinate e quando chegaram os “mi-mi-mi” achei que iria me lembrar de uma música ruim por aí toda vez que escutasse isso, mas graças a Deus achei errado.
Break My Heart: bom saber que a Dua acertou em todos os singles (aprenda Taylor Swift, tá passando da hora) e escolheu faixas que representam bem a ideia de todo o álbum. Break My Heart é uma ótima ponte entre os anos 70 e 2019/2020. Alguns podem dizer que é genérica (esse termo hahaha), mas pop raiz é genérico, quem é que aguenta coisas conceituais e cheias de raciocínio 24/7?
Good In Bed: não sei o motivo, mas isso aqui me lembrou muito da Utada Hikaru, uma cantora incrível do J-pop. Talvez seja a loucura de toda a faixa (que também lembra Lily Allen) mas acho que isso aqui ficaria tão bem no Hatsukoi (2018) - especialmente do lado de Too Proud. Talvez eu esteja louco com esse achismo, mas amei Good In Bed.
Boys Will Be Boys: do ponto de vista da composição, BWBB não tem muita coisa a ver com o restante do álbum, e em alguns momentos me lembrou mais do pop épico de Florence + The Machine, então claro que ela é ótima.  Os violinos, os coros, tudo é incrível por aqui e é um final emocionante, mesmo que alguns digam que quebrou todo o conceito bem no encerramento.
Pessoalmente, não ligo se o disco/synth-pop não acompanhou a última faixa, pois Boys Will Be Boys possui uma das melhores letras de todos os tempos, questionando uma série de comportamentos que normalizamos na sociedade para esconder o machismo e a misoginia. E Dua Lipa não está no clima para responder contra-argumentos estúpidos como “não generalize”, vale muito a pena conferir isso aqui e, se for o caso, repensar.
Dentro de um álbum bem anos 70/80, eu acredito que combinar elementos da música atual com essa letra nos leva a questionar quais foram os avanços que tivemos na nossa sociedade no modo de tratar e representar as mulheres, será que mudamos alguma coisa nos últimos 50 anos?
Já as outras faixas que não falei especificamente (Levitating, Pretty Please e Love Again) são boas, só não adicionam nada de novo fora das que eu já comentei. Pode clicar no play tranquilamente e fechar os olhos.
Por fim, faz tempo que o pessoal tenta defender músicas ruins com a desculpa do “conceito por trás”, aqui Dua Lipa combinou ótimas canções com um conceito nostálgico e ainda entregou um som futurista em algumas partes, um excelente álbum pop que merece toda a admiração que vem recebendo.
Uma pena, porém, que uma série de estereótipos criados nos últimos anos - com a popularização no Ocidente - impeça as pessoas de ouvir a música coreana e japonesa. O pessoal do lado de lá já vem fazendo há muitos anos (e em alguns casos até melhor) tudo o que foi feito aqui.

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