Minha história com o pop
do lado de cá do mundo nunca foi muito profunda, digo isso porque eu sempre
gostei dos singles que ficavam famosinhos, mas ouvir um álbum inteiro? Jamais.
Do ano passado pra cá isso mudou e eu
tenho me esforçado para escutar o que todos estão ouvindo. Desse conjunto de
álbuns que já escutei meu favorito é o Future Nostalgia, da Dua Lipa.
O primeiro álbum
dela me lembrou bastante de algumas coisas no K-pop, só que entre coisas que
lembram K-pop e o próprio gênero eu prefiro o original, e não dei muita atenção.
Já o Future me soa meio inexplicável: não há nada nele que pareça inédito, mas
todas as músicas são tão boas, descontraídas e me levam direto pros anos 70/80
que nunca vivi.
Future Nostalgia: esse “future” logo no começo me
lembrou muito de canções como “Open Your Heart” da Madonna, então pode ter certeza
que essa aqui vale muito a pena. Tem várias coisas acontecendo no instrumental,
até mesmo um piano aparece quase no fim e ela vai ficando cada vez mais atual e
menos nostálgica.
Don’t Start Now: novamente misturando elementos
atuais com a música dos anos 80, aqui Dua Lipa ainda acrescentou o disco dos
anos 70. O resultado é um pop maravilhoso e eu com certeza dançaria sozinho no
meu quarto de madrugada (se já não faço isso).
Mas o que mais gostei nessa faixa é a
letra, pois não tem nada de novo em mandar a/o ex se ferrar porque ela/ele
começou a se preocupar com você depois que tudo está finalmente se ajeitando, só que tem gente de coração partido todo ano então ouvir essa história será sempre
interessante.
Cool: me lembrou bastante da trilha
sonora de “Todo Mundo Odeia o Chris” e de alguns clássicos como “Time After
Time”, provavelmente porque o new wave é mais forte aqui. É um dos momentos que
a nostalgia (no meu caso de algo que não vivi) grita nos nossos ouvidos.
Physical: como diria a Anitta “aqui é a
patroa falando”. Estamos diante da melhor música do álbum e talvez a melhor
música que eu escutei desse ano. Ela começa bem humilde e vai evoluindo numa
mistura bateria + sintetizador e um refrão bem gritado (que com a voz grave da
Dua só fica melhor). Por volta de 2:30 na música foi quando soube que isso aqui
era o amor da minha vida, pois o instrumental diminui e a voz dela recebe todo
o destaque gritando “All night, I'll
riot with you, I know you got my back and you know I got you, So come on, come
on, come on, Let’s get physical”. Perfeita.
Hallucinate:
sei que essa tem muito das décadas passadas, mas pra mim ela está completamente
no lado mais futurista do álbum e isso prova minhas suspeitas: Future Nostalgia
é o Past<Future (2009) do ocidente e é por isso que eu amei tanto todas
essas faixas. Como sou fã dessa vibe futurista, eu fiquei apaixonado em Hallucinate
e quando chegaram os “mi-mi-mi” achei que iria me lembrar de uma música ruim por
aí toda vez que escutasse isso, mas graças a Deus achei errado.
Break My Heart: bom saber que a Dua acertou em todos os singles
(aprenda Taylor Swift, tá passando da hora) e escolheu faixas que representam
bem a ideia de todo o álbum. Break My Heart é uma ótima ponte entre os
anos 70 e 2019/2020. Alguns podem dizer que é genérica (esse termo hahaha), mas
pop raiz é genérico, quem é que aguenta coisas conceituais e cheias de
raciocínio 24/7?
Good In Bed:
não sei o motivo, mas isso aqui me lembrou muito da Utada Hikaru, uma cantora
incrível do J-pop. Talvez seja a loucura de toda a faixa (que também lembra
Lily Allen) mas acho que isso aqui ficaria tão bem no Hatsukoi (2018) - especialmente
do lado de Too Proud. Talvez eu esteja louco com esse achismo, mas amei Good
In Bed.
Boys Will Be Boys: do ponto de vista da composição, BWBB não
tem muita coisa a ver com o restante do álbum, e em alguns momentos me lembrou mais do pop épico
de Florence + The Machine, então claro que ela é ótima. Os violinos, os coros, tudo é incrível por
aqui e é um final emocionante, mesmo que alguns digam que quebrou todo o
conceito bem no encerramento.
Pessoalmente,
não ligo se o disco/synth-pop não acompanhou a última faixa, pois Boys Will Be
Boys possui uma das melhores letras de todos os tempos, questionando uma
série de comportamentos que normalizamos na sociedade para esconder o machismo
e a misoginia. E Dua Lipa não está no clima para responder contra-argumentos estúpidos
como “não generalize”, vale muito a pena conferir isso aqui e, se for o caso,
repensar.
Dentro de um álbum bem anos 70/80, eu acredito
que combinar elementos da música atual com essa letra nos leva a questionar
quais foram os avanços que tivemos na nossa sociedade no modo de tratar e
representar as mulheres, será que mudamos alguma coisa nos últimos 50 anos?
Já as outras faixas que não falei
especificamente (Levitating, Pretty Please e Love Again) são boas, só não
adicionam nada de novo fora das que eu já comentei. Pode clicar no play
tranquilamente e fechar os olhos.
Por fim, faz tempo que o pessoal tenta defender músicas
ruins com a desculpa do “conceito por trás”, aqui Dua Lipa combinou ótimas
canções com um conceito nostálgico e ainda entregou um som futurista em
algumas partes, um excelente álbum pop que merece toda a admiração que vem recebendo.
Uma pena, porém, que uma série de estereótipos
criados nos últimos anos - com a popularização no Ocidente - impeça as pessoas
de ouvir a música coreana e japonesa. O pessoal do lado de lá já vem fazendo há
muitos anos (e em alguns casos até melhor) tudo o que foi feito aqui.
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